Sono e cérebro: como a apneia pode aumentar o risco de AVC

Dormir bem é muito mais do que descansar. Durante o sono, o cérebro reorganiza informações, consolida memórias, regula hormônios e mantém o equilíbrio das funções vitais do corpo. Quando esse processo é interrompido de forma repetitiva, como acontece na apneia do sono, não apenas a qualidade de vida é prejudicada, mas também aumenta o risco de doenças graves, incluindo o Acidente Vascular Cerebral (AVC).

A apneia do sono é um distúrbio respiratório caracterizado por paradas momentâneas da respiração durante o sono. Essas pausas podem durar segundos ou até minutos, repetindo-se dezenas ou centenas de vezes durante a noite. Na forma mais comum, a apneia obstrutiva do sono, ocorre o relaxamento da musculatura da língua e da garganta, que bloqueia a passagem de ar para os pulmões. Isso leva à queda da oxigenação no sangue e despertares breves, muitas vezes imperceptíveis para o paciente. O resultado é um sono fragmentado, superficial e incapaz de restaurar plenamente o organismo.

A ligação entre apneia e AVC é direta e preocupante. A cada episódio de apneia, a falta de oxigênio provoca inflamação nos vasos sanguíneos e danos ao endotélio, a camada interna que reveste e protege essas estruturas. Esse processo favorece a formação de coágulos e aumenta a chance de obstruções que podem levar a um AVC. Além disso, o esforço constante para retomar a respiração ativa de forma exagerada o sistema nervoso autônomo, elevando a pressão arterial, alterando a frequência cardíaca e favorecendo o surgimento de arritmias, como a fibrilação atrial — outro importante fator de risco para o AVC.

Estudos mostram que homens com apneia do sono têm mais que o dobro de risco de sofrer um AVC em comparação com aqueles sem o distúrbio, mesmo quando outros fatores de risco, como hipertensão e diabetes, são controlados. O problema também pode ser consequência do próprio AVC: até metade dos pacientes que sofreram um evento desse tipo apresentam apneia posteriormente, e um terço mantém o quadro de forma crônica, o que pode dificultar a reabilitação e aumentar a chance de novos episódios.

O diagnóstico da apneia é feito por meio da polissonografia, exame que avalia parâmetros respiratórios, cardíacos e cerebrais durante o sono. Uma vez confirmado o quadro, o tratamento é fundamental para reduzir

o risco de complicações. Entre as opções, o uso do CPAP — equipamento que fornece pressão positiva contínua para manter as vias aéreas abertas — é considerado o método mais eficaz. Em muitos casos, mudanças de hábitos, controle do peso, ajustes na posição ao dormir e redução do consumo de álcool e sedativos também são indicados.

A boa notícia é que a apneia do sono tem tratamento e, quando controlada, o risco de AVC e outras complicações cardiovasculares diminui significativamente. Reconhecer os sinais, como ronco alto, pausas respiratórias percebidas pelo parceiro e sonolência excessiva durante o dia, é o primeiro passo para buscar ajuda médica.

Dormir bem não é luxo, é necessidade. E no caso do cérebro, é uma das mais poderosas formas de prevenção.

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Dr. Orlando Maia

Dr. Orlando Maia

Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Campos em 1995, Dr. Orlando Maia é especialista em neurorradiologia intervencionista, membro titular da World Federation Neuroradiology, da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro e vice-presidente do Congresso Brasileiro de Neurocirurgia 2026.

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